AÇÃO DE GRAÇAS: A EUCARISTIA


           A Bíblia nos narra diversas situações vividas pelo povo de Deus ao longo dos tempos.
 É parte característica desde povo, ontem como hoje, o gesto de Ação de Graças. Antes de qualquer fato histórico que possa comprovar o que falamos, vejamos em primeiro lugar, o significado de Ação de Graças.
            Ação de Graças é a tradução da palavra grega eucaristia que por sua vez é tradução da palavra hebraica berakah (Frei Alberto Beckhauser, 1988, p.79). Alguns relatos bíblicos expressam o reconhecimento do povo escolhido ao usufruir da bondade de Deus. Diante da descoberta de um fato maravilhoso realizado por Deus, o homem, seu servo, inclina-se e prostra-se diante dele. Podemos citar um dos muitos casos encontrados na Bíblia:
  • Em Gn 24,12-14 lemos que o servo de Abraão recebeu a incumbência de encontrar uma mulher para Isaac. O servo vendo-se em dificuldades faz o Senhor uma oração:
Senhor, Deus de Abraão, meu Senhor, fazei-me encontrar hoje o que desejo e manifestai vossa bondade para com meu Senhor Abraão... Portanto, a donzela a quem eu disser: inclina o teu cântaro, por favor, para que eu beba, e que me responder: bebe; e darei de beber também aos teus camelos, essa é aquela que destinais ao vosso servo Isaac.

            A narração continua: “ainda não havia acabado de falar, quando sobreveio com um cântaro aos ombros, Rebeca, filha de Batuel, filho de Melca... realiza-se que o servo havia pedido”.
            Diante deste fato, o servo prostra-se diante do Senhor e faz esta oração: “Bendito seja, o Senhor, Deus de Abraão, meu Senhor, que não faltou à sua bondade e à sua fidelidade para com ele”. Eis a oração de Ação de Graças.
            Ela se dá em um momento profundo de alegria e gratidão a Deus pelos benefícios realizados, ou seja, é uma oração que exprime não apenas um agradecimento mas também “uma resposta de abertura num misto de gratidão, de louvor, profissão de fé, reconhecimento, adoração diante do bem recebido, diante do fato numinoso (Frei Alberto Bechauser, 1988, p.81).
            Oração semelhante é atualizada na Santa Eucaristia. No momento eucarístico fazemos memória à manifestação de Deus ao seu povo ao longo dos tempos. Hoje, como ontem, em cada Celebração Eucarística todos se unem em torno do altar para celebrar a ação de graças ao Deus de todos os tempos; é o lugar onde semelhantemente ao servo de Abraão, o povo de Deus louva, faz sua profissão de fé, pede perdão, adora, intercede, celebra, enfim, o maior dom recebido: Jesus Cristo.
            Conforme fala o Frei Alberto Beckauser: “A Eucaristia é, portanto, uma oração-atitude dirigida a Deus que nasce de um fato maravilhoso. Diante deste fato, atribuído à grandeza e ao poder de Deus, o homem se admira e prorrompe em aclamações, narrando o fato de que foi testemunha” (p.81).
 JESUS CRISTO, A PÁSCOA VERDADEIRA

            É admirável a predileção de Deus pelo seu povo. Isso Ele sempre demonstrou através de sinais visíveis pelos profetas por Ele enviados para comunicar o seu amor. Nos momentos em que o homem se afastava, Ele os fazia acreditar que era um Deus presente, e essa fé que sempre foi despertada no povo, trazia-os de volta ao encontro de Deus. E chegada a plenitude dos tempos, se cumpre a promessa anunciada pelos profetas.
            Deus envia seu Filho por meio de uma mulher para ser o nosso Salvador. É a Palavra que se faz carne e habita entre nós. Os Evangelhos fazem alusão aos momentos em que o próprio Jesus revela sua identidade. É Ele o verdadeiro Cordeiro de Deus que veio morar entre nós para tirar os pecados do mundo. Temos presente, então a ligação entre a celebração do rito pascal dos hebreus e a morte de cristo. Eis o que fala o Evangelho de Mateus, 26,2: “sabeis que dentro de dois dias á a Páscoa e o Filho do homem será entregue para se crucificado”.
            Em João 13,1 lemos: “antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara sua hora de passar deste mundo ao Pai, havendo amado os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou”. E João ainda acentua o aspecto pascal da morte de Cristo, fazendo coincidir sua entrega para ser crucificado com a imolação dos Cordeiros no Templo para a festa da Páscoa: “era o dia da preparação da Páscoa, por volta da hora sexta. Então entregou-lhe para que o crucificassem” (Jo 19,14-16).
            Constata-se, por meio dos Evangelhos, que o Filho revelado pelo Pai, é o novo Cordeiro, que entrega sua vida para a remissão dos pecados do mundo, pois foi assim que “Jesus Cristo antes de deixar este mundo e voltar para o Pai, institui um rito, que, substituindo a Páscoa antiga, perpetuasse a verdadeira Páscoa, a verdadeira passagem do homem deste mundo para o Pai, por sua morte redentora” (Frei Alberto, 1988, p.87).

O SENTIDO DA CEIA FRATERNA
             Se refere à própria ceia, ao banquete no qual o Cordeiro é oferecido em alimento. A Constituição Litúrgica do Concílio Vaticano II diz que: “a Eucaristia é o memorial de sua Morte e Ressurreição, sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que Cristo nos é comunicado em alimento, o espírito é repleto de graças e nos é comunicado o penhor da futura glória” (SC, n.47).

 ELEMENTOS QUE COMPÕEM A CEIA

            O altar, a mesa do Sacrifício Cristão, o pão e o vinho, comida e bebida que são apresentados em bandejas e cálices, aos quais são também proclamados por Jesus como verdadeira comida e verdadeira bebida (Cf Jo 6).
            A ceia eucarística é o banquete, a ceia por excelência onde celebramos o mistério de Cristo. Nela realizamos a maior homenagem que podemos prestar a Deus por Cristo, junto com os irmãos e irmãs, somos invadidos por sentimentos diversos que nos impedem a uma maior intimidade com Deus e com os irmãos. São os mesmos sentimentos de Jesus, pois somos oferecidos pelo sacerdotes, ao Pai “por Cristo, com Cristo, em Cristo”.
 PALAVRAS QUE PERCORREM O TEMPO

            Fazemos memória em cada Celebração Eucarística ao grande mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus. É para este fim que são atuais suas palavras através das quais Ele afirma e reafirma que seu corpo é verdadeira comida e o seu sangue verdadeira bebida para a salvação do mundo. São palavras sagradas que vão se perpetuando ao longo do tempo por tão diferentes pessoas, culturas, sociedades, grupos de diferentes costumes, mais que se unem por meio da fé no que Ele falou. São as palavras que Ele pronuncia na noite em que celebrou a última ceia com seus apóstolos. Elas revelam a essencialidade da consagração. Por causa dessas palavras, é que o pão e o vinho permanecem sempre o Corpo e o Sangue de Cristo mesmo depois de terminada a Missa.
            Jesus é a própria Palavra que dá sentido ao nosso ontem, hoje e amanhã. É pela palavra que tudo se faz. Sendo assim, vale crer cada vez mais que o pão que comemos na Missa, não é mais pão, mas o Corpo de Cristo; e o vinho, não é mais vinho, mas o sangue de Cristo. Ele assim falou, e assim se fez.
7 - COMO PÃO QUE SE PARTE
 

            O sacerdote jesuíta Piet Van Breemn, abre um dos capítulos de seu livro com esse título, onde fala da importância da espera e da confiança em Deus, mesmo em momento de escuridão e de sombras. A oração, segundo ele, é o momento mais fecundo do encontro, da intimidade com Deus, pois transforma-o orante em pão que é partido. Ele discorre sobre o assunto de forma profunda e verdadeira:

Na fração do pão é que sou feito disponível, frequentemente de uma forma que me permanece oculta. Feito pão, sou distribuído, não uma vez, mas muitas vezes sempre de novo.  A oração pressupõe e faz crescer a disponibilidade de aceitar esse mistério como um apelo, ao qual respondo com todo o meu ser. É na fração do pão que se realiza em mim o Mistério Pascal de morte e ressurreição. Se quero este Mistério. Por outro lado,s e quero rezar, tenho de estar disposto a viver esse Mistério, sem isso, nunca conseguirei rezar.

            A Eucaristia é o lugar por excelência onde somos educados para ser pão repartido, como Jesus. Quando celebramos esse Mistério, somos convocados a uma prática coerente com o que fazemos. A Eucaristia nos impulsiona sempre em direção ao outro. Celebrando a Ceia do Senhor, somos transformados com Ele e nEle para uma ação verdadeira e eficaz em meio de seu povo.
            Hoje, como ontem, somos povo a caminho, o caminho do Reino que não vai chegar, mas já está no meio de nós.



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